O que aprendi com as palavras de Antônio Ermírio de Moraes

Admiro muito os líderes empreendedores pela sua capacidade de fomentar ideias, congregar pessoas, construir organizações e crescer. Também acho formidável alguém que você nunca conheceu pessoalmente conseguir ensinar-lhe por meio de palavras, textos, ou em uma simples entrevista. 

Ainda me recordo da vez que, em 1.997, Antônio Ermírio de Moraes foi questionado por Roberto D´Ávila se ele prestava atenção às empresas de Tecnologia de Informação, afinal, elas estavam crescendo muito e os empresários do setor iam muito bem.

Ao ouvir aquela indagação pensei: - Ele está falando sobre mim. Afinal, eu era proprietário de uma revenda de computadores especializada em projetos de grande complexidade. Fiquei muito atento à resposta do Dr. Antônio. Mas, ele disse: 

- Eu não presto atenção nessas empresas! 

Roberto D´Ávila, surpreso, perguntou: 

- Mas, o senhor não acha esse mercado importante, não considera que esses empresários estão fazendo um bom trabalho?

E ele respondeu:

- Eu somente começo a prestar atenção em um empresário depois de, no mínimo, dez anos. Pois, antes disso ele ainda não foi testado e, provavelmente não passou por dificuldades em seu empreendimento.

Fiquei pensando naquilo como um erro de avaliação dele. Afinal, eu já estava com a empresa fazia quatro anos e considerava que aquilo era muito tempo. Na época eu tinha 31 anos.

Aquela entrevista nunca mais me saiu da cabeça. O tempo passou e em 2000, uma crise de grandes proporções atingiu as empresas de telecomunicações e de internet. A bolsa de Nova York foi arrastada para baixo e inúmeros negócios baseados em internet e tecnologia da informação sucumbiram. Inclusive minha empresa.

Eu me achava muito seguro. A ponto de ter dois anos de caixa da empresa guardados para a eventualidade de uma crise. Mas, sem experiência, os dois anos se passaram e não fomos, meu sócio e eu, capazes de fazer a empresa voltar aos bons tempos.

Como disse, admiro as pessoas que conseguem ensinar com poucas palavras.

Aquela crise foi uma oportunidade para que eu mudasse para a área de treinamento de líderes empresariais. E foram anos muito difíceis de recomposição financeira e, principalmente, do meu espírito empreendedor.

Mas, dois aprendizados importantes ficaram daquela rápida entrevista.

Em primeiro lugar todo empreendedor deve saber que sua empresa enfrentará ciclos formados por fases de expansão e de contração. Se no período de expansão o empreendedor achar que o crescimento é uma condição permanente, irá gastar com coisas supérfluas, não construirá a solidez necessária para o negócio e irá ignorar a existência de contrações em seu mercado. Quando ela chegar, não estará preparado intelectualmente e não saberá o que fazer para recuperar-se.

Recentemente visitei uma empresa cujos sócios desconhecem fases de contração. O que estão fazendo? Comprando carros importados, casas luxuosas, gastando com viagens internacionais, esbanjando e curtindo a vida. De fato, como negar que, após anos de trabalho duro e sacrifícios, o empreendedor merece sua recompensa? Mas, quando ela compromete recursos que deveriam ser preservados para criar mais oportunidades para a empresa crescer e aguentar uma crise, acaba por gerar as condições para o fracasso.

O segundo ponto importante e que também observei nas palavras de Antônio Ermírio de Moraes é que todo empreendimento deve focar o crescimento. Ainda me recordo que, na década de 90, minha empresa estava tão bem que decidimos não crescer. Considerávamos que o mercado de tecnologia da informação era inesgotável, pois sempre as empresas precisariam de computadores. 

Mas, quando a crise chegou, lembro-me de ter visto um site da IBM, gigante da computação, oferecendo hard disks por R$ 200,00. Percebi que, se uma empresa daquele tamanho estava caçando cada centavo no mercado, estávamos acabados. Ela cresceria por meio de clientes que, anteriormente, comprariam produtos e projetos de nós.

Por isso, hoje, o crescimento não sai da minha agenda. E deveria constar na agenda de todo empreendedor, por menor que seja sua companhia.

Penso que temos dado foco excessivo nas novas gerações na empresa e no que podemos aprender com elas. O equilíbrio está em ouvirmos atentamente aqueles mais experientes e que passaram por muitas dificuldades e desafios, e venceram.

Não é nada fácil empreender em um país que sofre da síndrome dos direitos adquiridos e onde toda empresa é sangrada pela ferocidade inominável de leis, decisões judiciais descabidas, governos e sindicatos.

Esse ambiente hostil ao empresário torna o trabalho de Antônio Ermírio de Moraes ainda mais relevante, icônico e inspirador. 

E suas palavras uma fonte de sabedoria para quem desejar ouvi-las com atenção e nelas refletir.

Elas são eternas.

Meu mais profundo respeito à sua obra.

Para trocarmos ideias no facebook: Silvio Celestino

Para me seguir no Twitter: @silviocelestino

Exibições: 317

Comentar

Você precisa ser um membro de Alliance Coaching para adicionar comentários!

Entrar em Alliance Coaching

© 2024   Criado por Silvio Celestino.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço