Resolva muitos problemas primeiro, enriqueça depois

Eu estive no StartAgro 1, primeiro evento de empreendedorismo AgTech do Brasil, realizado no Campus São Paulo/Espaço Google, que reuniu, na terceira semana de novembro, o ecossistema de tecnologia para o agronegócio e debateu alguns dos principais temas do setor na atualidade.

No evento, um dos debatedores, fazendeiro em Mato Grosso do Sul, falou sobre os principais problemas no campo. Ele disse que, de imediato, existem 200 problemas para ser resolvidos; no longo prazo, mais de mil. Destacou dois deles como extremamente relevantes: como prever o tempo e como eliminar ou reduzir os assaltos às fazendas.

Um grande problema com jovens idealizadores de novas companhias, embora isso também aconteça com alguns empresários já estabelecidos, é que desejam lançar novos produtos que não resolvem problemas reais dos clientes. São ideias distantes do mercado e da realidade do comprador para saber se, de fato, endereçam as preocupações mais relevantes dele. Isso é motivo de muitos investimentos perdidos, frustrações e fracassos empresariais.

Uma das causas mencionada nos debates foi esta: há novos empreendedores que desejam enriquecer sem antes resolver muitos problemas.

Esse parece ser um problema do nosso tempo, mas semelhante ao que me recordo ter ocorrido em 1999, pouco antes do estouro da bolha da internet no ano 2000. Na verdade, há muitos novos empresários que estão esperando um investidor se interessar por seu negócio para fazer dinheiro, em vez de preocupar-se em vender. E as vendas são o resíduo de você comunicar bem uma solução para os problemas reais de seus clientes. E o dinheiro será o resíduo de você entregar bem essa promessa.

Isso somente será possível se você estiver próximo a seu cliente e compreender seu contexto e sua linguagem. Aliás, uma reclamação no evento é que muitos fazendeiros são abordados com jargões e anglicismos que para eles não fazem o menor sentido – eu tenho a mesma opinião quando vejo propagandas com expressões em inglês. Embora eu seja um encorajador de as pessoas aprenderem inglês para terem acesso a conhecimento relevante, não vejo razão para utilizar o idioma para expressar algo que é mais compreensível em português.

Fazendeiros, assim como qualquer empresário, querem saber se o produto que você lhe oferece o faz produzir mais, com menor custo, em menor tempo ou com mais segurança. E ele mede tudo isso com a mesma métrica a que está acostumado. Portanto, ele quer saber quantas sacas de milho, ou de soja, vai custar a solução proposta.

Quando eu atendo cooperativas no oeste do Paraná, mas também mineradoras no interior de Minas, ou ainda empresas em outros países, por exemplo, fica muito claro para mim que é impossível entender seus problemas vistos a partir de São Paulo. Se você realmente quer ajudar o agronegócio ou qualquer outro empreendimento distante, você tem de ir até lá e compreender todo o ecossistema, sua cultura e linguagem em que está inserido.

No evento também foi mencionada a necessidade de aguardar os momentos apropriados das safras para testar novos produtos. E isso pode significar um investimento de anos antes de fazer uma primeira venda relevante. O que conflita com o desejo de certos novos empreendedores de enriquecer rapidamente.

Portanto, se você realmente deseja empreender, tenha um propósito elevado que informe qual problema relevante e real sua empresa e seus produtos resolvem. Essa é a verdadeira semente do sucesso no longo prazo. E, se você trabalhar muito, por muito tempo e resolver muitos problemas, aí sim terá a possibilidade de enriquecer, como tanto deseja. Antes disso, não.

Vamos em frente!

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